"... faltam-me as vísceras de fora quando as palavras se deixam antever. " in Memórias Internadas

19.1.13

O Aprendiz Secreto - António Ramos Rosa



Ao fim de cada construção diária, ao crepúsculo, o construtor sobe a uma torre de pedra para meditar um pouco. A plenitude da tranquilidade é perfeita nos campos fulvos e ondulados em redor, coberto de ervas altas, de  flores e arbustos e marginados por um riacho sob a penumbra verde de um arqueado tecto de folhagem. Dir-se-ia que o olhar do construtor encontrou o ser em extensão, o ser que se oferece, no seu mutismo eloquente, e ao mesmo tempo se guarda no mesmo espaço do seu tranquilo esplendor. A meditação não é mais do que a contemplação de uma matéria que contem em si o excesso da sua energia calma e a densidade materna que envolve todas as interrogações e torna supérfluo e intruso o pensamento. Por isso o construtor se integra na paisagem  e, reflectindo-a, não a elabora nem a altera. Toda a sua vida está intacta e plenamente segura na indistinção entre o seu íntimo e a túmida e fresca serenidade da paisagem que o envolve. (...)


O APRENDIZ SECRETO
ANTÓNIO RAMOS ROSA

Quasi  .  1ª EDIÇÃO, JANEIRO 2001

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